Delegação brasileira trouxe na bagagem premiações e conhecimento de valor para disseminar entre pares no País
Mais de 12 brasileiros participam entre os dias 11 a 16 de junho do congresso anual da sociedade americana de medicina nuclear – a Society of Nuclear Medicine and Molecular Imaging (SNMMI), realizado em San Diego, Califórnia. O encontro reuniu especialistas de todo o mundo, ocasião em que foi promovida a integração e repercussão de avanços e desafios na prática clínica e científica vivenciada na rotina dos participantes.
A Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN) esteve representada pelo presidente, Claudio Tinoco Mesquita, por Adelina Sanches (regional Bahia); pelos membros Paulo Almeida e Aline (PE); José Keite Fábio Esteves, Wilter Ker, Tadeu Kubo (coordenador de física da SBMN) , Júlio Prestes, Artur, Camila Mosci e Karina Mosci, Vinicius, Ivana e Omar. Estes são alguns dos nomes que representaram o país no evento.
Homenagens, premiações de abstracts foram alguns dos marcos da presença do Brasil no SNMMI 2016. Confira o álbum com fotos que registram alguns destes momentos!
Aproximação MN & Pacientes
Outra iniciativa interessante cabe ao projeto Pangea – encabeçado pela A Associação Canadense de Medicina Nuclear. A entidade está desenvolvendo um site em múltiplas línguas para facilitar a educação de pacientes de todo o mundo sobre os procedimentos de medicina nuclear.
O Congresso SNMMI 2016 trouxe ainda a palestra com Josh Mailman, que compartilhou sua experiência exitosa com a medicina nuclear na ocasião em que teve de lutar contra um tumor neuroendócrino. Em decorrência de sua vivência, Mailman fundou uma associação de suporte e esclarecimento a pacientes que, como ele, tem (ou tiveram) de lidar com a doença – a PRRTInfo.ORG. Por meio da iniciativa, Mailman ajudou a aprovar o exame de galio68-dotatate nos Estados Unidos – aprovação conquistada poucos dias antes do início do Congresso. Agora ele luta para que haja o registro e reconhecimento do lutécio. Seu site tem mais de 15 mil visitas/mês e esclarece sobre terapia com peptídeos radioativos.
No Brasil, a SBMN criou o “Fórum de Pacientes” – um encontro que tem objetivo de aproximar a entidade de organizações e pessoas que atuam em defesa do paciente. O encontro foi realizado a primeira vez, em 2015, durante o 29º Congresso no Rio de Janeiro, e terá sua segunda edição neste ano, no 30º Congresso, em São Paulo. A ideia – introduzida pelo atual presidente da SBMN, Claudio Tinoco, foi inspirada no “Patient Day” – já tradicional no encontro norte-americano. Acompanhe as informações no site hotsite do evento brasileiro.
Highlights
Para aqueles que não puderam estar no encontro deste ano, segue alguns dos highlights compartilhados pelos colegas que lá estiveram:
Destaque total para o estudo fase III NETTER-1 – que demonstrou resultados muito positivos do 177Lu-Dotatate para terapia dos tumores neuroendócrinos! “Este é o primeiro estudo randomizado com lutécio 177-Dotatate. É a pesquisa que faltava para os peptídeos radioativos entrarem na pratica clinica”, celebrou o presidente da SBMN, Claudio Tinoco Mesquita. O médico nuclear ressalta que o artigo demonstrou redução de mais de 70% nos desfechos adversos de pacientes com tumores neuroendócrinos em comparação com tratamento padrão. (veja mais sobre a evolução de Netter-1 aqui)
Tinoco Mesquita considera que estudos deste nível são fundamentais para que a medicina nuclear entre nós guidelines americanos e internacionais que cada vez mais pedem estudos com desenhos clínicos como este. Isto permite que mais e mais pacientes se beneficiem destes tratamentos.
Além desta, outras boas notícias para a medicina nuclear: neste ano foram aprovados dois radiofármacos novos para PET: 1) Fluciclovine 18F para câncer de próstata e 2) Gálio 68- Dotatate para tumores neuroendócrinos. “É a medicina nuclear em movimento!” – declarou Tinoco Mesquita.
Ele reportou ainda que estão sendo liberados novos softwares para SPECT; e equipamentos de Spect com CZT, que tornam a medida do fluxo coronário uma nova ferramenta de prática clínica.
Merece destaque também a apresentação de Sanjiv Ghambir, da Universidade de Stanford trouxe à abordagem a saúde de precisão (Precision Health) – que passa a utilizar instrumentos para monitorar em tempo real biomarcadores que indicam precocemente o surgimento de doenças ou o risco aumentado das mesmas.
Nos próximos meses devem entrar no mercado produtos como o “vaso sanitário inteligente”, que monitora a presença de sangue nas fezes e anormalidades na urina; a lente de contato “smart” que monitora glicemia, frequência cardíaca, pressão arterial; o sutiã “smart” que faz um mapa da densidade da mama por termografia e detecta anormalidades com uso de celulares muito precocemente.
“A área de imagem molecular se acopla a isto na confirmação precoce das anormalidades observaras nestes biossensores”, explica Tinoco Mesquita. Ele complementa que na Universidade Federal Fluminense (UFF) – localizada no Rio de Janeiro (RJ), o professor de Computação Orlando Loques trabalha há anos nesta linha de computação ubíqua, que como o smartphone passou a fazer parte da do dia a dia da população. O presidente da SBMN salienta que ainda é grande a discussão quanto ao uso destas tecnologias que devem ser inseridas no mercado, “pois os dados são passíveis de uso errado. Estes fazem parte de muitas iniciativas do sequenciamento do DNA e a definição de quais doenças deverão ser rastreadas ao longo da vida das pessoas no futuro”, complementa Tinoco Mesquita.
Já a apresentação do Prof. Marcelo Di Carli, do Brigham and Women Hospital, demonstrou o valor do PET/CT de perfusão miocárdica. De acordo com ele o cálculo da reserva de fluxo coronário passa a ter implicações diagnósticas e prognósticas. Pacientes com reserva de fluxo comprometida (CFR < 2) tem um prognóstico muito ruim com tratamento clínico mesmo com áreas de isquemia menor que 10%. Podem ser que se beneficiem de revascularização. Em contrapartida os pacientes com isquemia > 10% e reserva de fluxo coronaria preservada (CFR > 2) mantidos em tratamento clínico tiveram bom prognóstico. “Cada vez mais as informações da reserva de fluxo coronária passam a fazer parte da cardiologia”, avalia Tinoco Mesquita.
PSMA e Câncer de Próstata >> A molécula PSMA para câncer de próstata, que segundo especialistas “veio para ficar”, deve ser rapidamente incorporada na prática diária. “Sem sombra de dúvida é um marcador muito acurado para a presença de doença. O que não sabemos ainda é como a informação fornecida pelo PET-PSMA deve ser usada para mudar a conduta destes pacientes e o seu real valor prognóstico. Estudos prospectivos e randomizados são necessários para nos responder estas lacunas”, avaliou o médico nuclear José Leite Gondim Cavalcanti Filho.
Trabalhos apresentados
Estudo brasileiro recebe reconhecimento de “International Best Abstract Award”
O reconhecimento enquanto melhor abstract internacional procedente do Brasil foi conquistado pelo estudo “Prognostic Value of Myocardial perfusion scintigraphy using accelerated cardiac acquisition with IQ SPECT techinique”, que teve como autora principal Maria Rezende, com Jader Azevedo e Claudio Tinoco Mesquita, que foi orientador da tese de mestrado de Maria – defendida na Universidade Federal Fluminense (UFF), no RJ, que resultou nesta comunicação . O estudo – que foi publicado na edição anais do congresso do periódico internacional “The Journal of Nuclear Medicine” recebeu a honraria pelos resultados apresentados. Acesse aqui
Na ocasião, Tinoco Mesquita representou a pesquisadora, que não pode participar do Congresso neste ano. No próximo Newsletter da SBMN – nº 133 – será publicada entrevista com Maria Rezende, na qual ela comentará mais detalhes sobre sua pesquisa.
O estudo de Adelina Sanches, que também é membro da diretoria da SBMN, e representa a entidade na Bahia, recebeu o terceiro lugar na sessão de pôsteres do Congresso. Esta é a primeira vez que Adelina conquista este tipo de reconhecimento internacional, com a submissão de um estudo, o que demonstra que a pesquisa é um dos caminhos essenciais para o crescimento da especialidade e, sobretudo, do reconhecimento do que vem sendo feito no Brasil – clínica e cientificamente.
“É de fundamental importância que todos nos do Brasil publiquemos estudos. Somos muito ricos em saberes. Temos de perceber que que nossos resultados são muito bem-vindos, em especial, no cenário internacional, e isto só demonstra a capacidade que temos e o quanto temos de estimular esta prática científica por aqui –seja proveniente das universidades ou de serviços privados, como é meu caso”, relatou Adelina.
A médica nuclear conta que entregou um relato de caso de sua rotina, no qual demonstrou o impacto do uso de imagens moleculares acopladas a CT para diagnosticar com precisão uma imagem duvidosa. Um de seus pacientes apresentou uma imagem que sugeria metástase de pulmão, sendo na verdade uma captação no esôfago após as imagens de fusão, o que também se mostra estranho – pois este é um órgão que não costuma dar metástase. Foi indicado a partir da medicina nuclear um encaminhamento para endoscopia digestiva o que solidificou o parecer de se tratar de um caso benigno, de patologia do próprio esôfago. “Por meio da imagem molecular evitamos que fosse caracterizada como mestastática e isso impediu o paciente de ser submetido a uma conduta equivocada”, contou Adelina.
O médico nuclear brasileiro José Leite Gondim Cavalcanti Filho apresentou um trabalho sobre o uso de contraste iodado em exames de PET/CT com FDG. Intitulado When contrast enhanced FDG PET/CT is superior to “FDG only” enhanced PET/CT? Essa pesquisa foi realizada na Clinica CDPI, no Rio de Janeiro, na qual Leite coordena o serviço de PET/CT.
O abstract teve como propósito demonstrar o uso de contraste venoso num exame de PET/CT – uma discussão que se arrasta há mais de uma década. “Não há dúvida que o contraste melhora a qualidade da imagem da TC. Mas só isso não justifica seu uso”, referencia Leite. Ele reforçou que uma lesão vista no PET melhor identificada na TC pelo contraste é uma informação redundante e não altera seu resultado final.
“Analisamos então dois cenários: (i) quando o uso do contraste mudou a interpretação do exame de normal->anormal ou (ii) doença estável->progressão seja por lesão identificada apenas na TC ou quando a TC direcionou a um ‘second-look PET’”, esclareceu Leite; Segundo ele, em 5% de casos selecionados (pp TU gastrointestinais) há uma mudança completa na impressão do exame, mudando assim a conduta, quando adicionado contraste venoso ao exame de PET/CT.
Tinoco Mesquita avalia que o Brasil está crescendo na produção científica e na qualificação da MN. O número de trabalhos produzidos no País vem aumentando a cada ano. Segundo ele, “ainda precisamos mais inserção da medicina nuclear na graduação para que mais jovens talentos possam ser sensibilizados às inúmeras oportunidades nesta área da medicina nuclear”.
Quando questionado pela equipe de comunicação da SBMN sobre com qual sentimento retornava do SNMMI 2016 – Tinoco Mesquita respondeu: “Estamos no caminho! A MN está em plena evolução. Temos que aperfeiçoar nossa legislação para temos mais e melhores radiofármacos. É fundamental haver mais colaboração internacional (e nacional – multicêntrica) para produzirmos, mais ciência na área da medicina nuclear e capacitarmos mais pesquisadores. Precisamos viabilizar acesso a medicina nuclear por meio da assistência à saúde – seja na via pública ou privada (SUS ou ANS). Precisamos atingir o potencial que a medicina nuclear brasileira tem”.
Homenagens do SNMMI 2016
Nesta edição o homenageado no congresso da SNMMI foi o Prof. Dr. Steven Larson, que publicou o seu primeiro trabalho noJournal of Nuclear Medicine em 1976 – quando ainda era estudante de medicina. Até hoje em plena atividade, Prof. Larson pesquisa incansavelmente na área de radioimunoterapia com radionuclídeos ligados à anticorpos no tratamento do câncer. “Um exemplo a ser seguido por nossos jovens médico nucleares” – salienta Tinoco Mesquita.
No chamado “Muro do Reconhecimento” – (tradução livre do “Wall of Remembrance”) a SNMMI prestou justa homenagem aos médicos nucleares que contribuíram para avanço científico da especialidade em todo o mundo! Prof. Dr. Edwaldo Camargo foi um dos especialistas que teve sua memória eternizada e celebrada no mural junto a outros colegas de renome.