Nossa colega, Sucupira de Brasilia, como nos referíamos a ela, faleceu no dia 16 deste mês de julho, deixando grande saudade entre a geração mais antiga da Medicina Nuclear.
Quem a conheceu, certamente não a esquecerá. Era uma personalidade excêntrica: extrovertida, culta, falante, acompanhando suas conversas com contagiantes risadas, mas também contestadora, arrebatada, exaltada, como quando eram discutidos assuntos polêmicos nas reuniões da Sociedade. E fervorosa observadora crítica da política do País: enviava carta aberta aos políticos, encabeçava abaixo-assinados, unia-se a protestos.
Sucupira era natural do Ceará, filha de uma grande família de Maranguape. Tinha 10 irmãos. Formou-se em Medicina em seu Estado natal. Transferiu-se ao Sudeste para fazer residência de Endocrinologia em Ribeirão Preto. Através da tireoide conheceu a Medicina Nuclear. Foi paixão à primeira vista e, como escreveu nossa colega Renata no grupo “Ricardo Brandão”, continuou sendo uma paixão quase platônica por toda a sua vida profissional.
Veio para São Paulo, para estágio no Laboratório de Radioisótopos da 1ª Clínica Médica/ IEA, no HC da USP, chefiado por Dr. Julio Kieffer. Foi então que a conheci e me tornei sua amiga. Devia ser a década de 70.
Defendeu tese de doutorado em Ribeirão Preto. Até onde me lembro, mudou-se logo para Brasilia, onde assumiu a instalação da Medicina Nuclear no Hospital dos Servidores daquela cidade.
Sempre inquieta, a certa altura solicitou e obteve estágio no Departamento de Medicina Nuclear da Johns Hopkins University de Baltimore, então o Vaticano da especialidade, chefiado pelo papa Henry Wagner. Acho que foi na mesma época em que lá era diretor clínico Edvaldo Camargo. Sempre foi grande admiradora de Edwaldo.
De volta, fixou-se definitivamente em Brasilia. Brigou constantemente contra a menor importância que a diretoria do Hospital dos Servidores dava aos radioisótopos. Mantinha também clínica particular de Endocrinologia e foi médica do Senado.
Tinha múltiplos hobbies e interesses: fotografava, tendo publicado um livro com artísticas fotos de Brasília (“Espelho d´água”), foi fazer curso de língua alemã na Alemanha, tocava violão e cantava, tinha aulas de piano…
Embora radicada na metade sul do país, nunca se desligou do seu Ceará. Em anos recentes, já aposentada, comprou e restaurou um casarão antigo no interior daquele Estado, para servir de centro de eventos locais e de aulas e exposições de artesanato para as pequenas cidades.
Adoeceu há uns 3 anos. Os agressivos tratamentos quimioterápicos não a impediram de continuar suas aulas de piano e de alemão e de esbravejar em e-mails cáusticos contra os políticos.
No último e-mail que dela recebi, em 23 de janeiro, em resposta ao meu, em que lhe recomendava que moderasse sua hiper-atividade, ela escreveu: “Quando não estou participando – ou, pelo menos, acompanhando os acontecimentos – sinto-me isolada do mundo”.
Anneliese Fischer Thom